quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Sessão evocativa dos 260 anos do Nascimento da Viscondessa de Balsemão

A iniciar a sessão, a Presidente da Casa da Beira Alta, Drª Maria Fernanda Braga da Cruz, agradeceu à Câmara Municipal do Porto, na pessoa do Dr. Raúl Matos Fernandes, cuja disponibilidade e empenho permitiram que esta Evocação dos 260 anos do Nascimento da Viscondessa de Balsemão fosse realizada naquele belíssimo salão do Palacete,local onde a Viscondessa teria passado tempos da sua vida. Agradeceu ainda a presença do Director da Biblioteca Aquilino Ribeiro,de Moimentada Beira, Dr.Ricardo Castro; a disponibilidade e entusiasmo da Professora Dr.ªMaria Luísa Malato Borralho em partilhar com a assistência os seus conhecimentos;a participação e intervenção do Dr.Luís Cabral; a concepção e organização do Dr. José Valle de Figueiredo, a alma desta realização e a participação do Grupo de Coros Dramáticos da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra no Porto.
Na sua intervenção intitulada " Se as casas não tivessem memórias...", o Dr. Luis Cabral falou da História do Palacete dos Viscondes de Balsemão, edifício histórico, situado na Praça Carlos Alberto, no Porto, mandado construir no séc XVIII pelo fidalgo José Alvo Brandão.
Esta casa entra no património da família Balsemão pelo casamento de D. Maria Rosa Alvo com o seu primo Luís Máximo Alfredo Pinto de Sousa Coutinho, 2º Visconde de Balsemão.
Na década de 1840, António Bernardino Peixe alugou o palacete transferindo a Hospedaria que tinha na Rua do Bonjardim para aqui. O que celebrizou esta Hospedaria Peixe, foi a estadia do exilado rei Carlos Alberto da Sardenha, entre 19 e 27 de Abril de 1849, enquanto aguardava a preparação da Casa da Macieirinha, onde veio a falecer a 28 de Julho desse ano.
Em 1854, foi adquirido pelo 1º Visconde da Trindade, José António de Sousa Basto, grande proprietário e capitalista, que introduziu profundas alterações no edifício, vindo a casa a atingir o maior esplendor que se lhe conhece.
Ficaram para a História as recepções e festas nos salões do Palacete.
Actualmente funciona aqui a Direcção Municipal da Cultura da Câmara Municipal do Porto.
A Professora Drª Maria Luísa Malato Borralho, docente e investigadora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, falou sobre a Vida e a Obra Poética da Viscondessa de Balsemão, D. Catarina Micaela de Sousa César e Lencastre, 1ª Viscondessa de Balsemão(1749-1824).
Nascida em Guimarães, no dia 29 de Setembro de 1749, dia dedicado pela liturgia, a São Miguel, foi uma
viajante: Guimarães, Londres, Lisboa, Porto, Funchal.
Através de uma exposição clara, suscinta e cativante, a Professora Maria Luísa Borralho soube, sabiamente, atrair e conduzir a assistência por aspectos menos conhecidos da vida e obra da Viscondessa de Balsemão.

Acompanhando socialmente o marido, Luís Pinto de Sousa, a poetisa parte para Londres e aí sente necessidade de se instruir. Para isso,refugia-se em casa, estuda inglês, francês e italiano e só depois de se sentir segura, abre os seus salões à sociedade londrina.
Na sua poesia aparecem referências ao Porto, Douro e Norte. Quase toda a sua poesia é circunstancial, dita pela autora e, a maior parte das vezes, não registada por escrito. Era ouvida e, quando muito, alguém a copiava à mão.
Na contra-capa do livro "POR ACAZO HUM VIAJANTE..." A VIDA E A OBRA DE CATARINA DE LENCASTRE, 1ª VISCONDESSA DE BALSEMÃO(1749-1824) da autoria da Professora Maria Luisa Borralho, ela escreve : "Nas actuais Histórias da Literatura, poucas ou nenhumas referências existem a Catarina de lencstre, 1ª viscondessa de Balsemão. Injustamente, cremos. Louvaram-na poetas como Nicolau Tolentino, Francisco Bingre, Ribeiro dos Santos, a Marquesa de Alorna ou Bocage. Referem-na os historiadores do século XIX, reconhecendo nela os traços de um emergente Romantismo ou a invulgaridade da escrita feminina. Mas hoje não temos como ler, dispersos que se encontram os seus poemas manuscritos. E a História da Literatura precisa de documentos, de preferência impressos.
Por Acazo hum Viajante é a narração de uma viagem. Uma viagem no Tempo, planeada para resgatar do esquecimento uma autora que não devia ter sido esquecida: com mapas, roteiros, caminhos percorridos e outras linhas de indefinidas veredas..."

A finalizar a sessão, o Grupo de Coros Dramáticos da Associação dos Antigos Estudantes da Coimbra, declamou alguns poemas da Viscondessa de Balsemão, entre eles :

Cartografia

Passei dos anos a estação primeira
Livre de susto, isenta de cuidado,
O meu nome entre muitos foi levado
Sobre as asas da fama lisonjeira.

Busquei do mundo a glória verdadeira
Que pode adquirir um peito honrado,
Fugiu de mim o bafo envenenado
Da inveja mordaz, ímpia e grosseira.

Amei os meus, e deles fui amada,
Viajei, e corri terras estranhas,
Cantei heróis, e de outros fui cantada.
E depois de passar coisas tamanhas
Nada ambiciono mais, que descansada
Comer ao pé do lar quentes castanhas.

A GUERRA PENINSULAR, A LITERATURA E O PORTO

Exposição comissariada pelo Dr. José Valle de Figueiredo




2 comentários:

  1. Maria Teresa Loureiro10 de outubro de 2009 às 23:05

    Apetecia-me acreditar que a Viscondessa de Balsemão, lá no "etéreo assento", onde se encontra, pudesse ver e ouvir esta sessão.
    Creio que descia ao magnífico salão deste Palacete, para cumprimentar o Dr.Luís cabral, convidando-o para se juntar às suas memórias...
    Apertaria contra o peito as mãos esvoaçantes da Doutora Maria Luisa Malato Borralho, numa tentativa vã de guardar nesse câsulo, toda a memória perdida...
    Teresita

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  2. Parabéns à Casa da Beira Alta, em particular à sua Presidente, drª Fernanda Braga da Cruz, pelo blog e interessantes notícias e fotos dos eventos realizados.
    Pena é a música ser tão irritante!
    Abraços amigos,
    José Rebelo (Casa dos Açores do Norte e Confraria Atlântica do Chá)

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